O tempo passa realmente rápido. Já passaram praticamente 6 semanas de estágio, 6 semanas de realização pessoal, de felicidade, de entrega, de gratidão, sei lá tantos e tantos sentimentos. Sinto um orgulho enorme por estar a gostar tanto do que estou a fazer, quero voltar um dia com toda a certeza.
É claro que nem tudo é um mar de rosas, também á cansaço, tristeza, stress, ansiedade mas basta um sorriso dos meus doentes que tudo melhora. Três dias depois de iniciar o estágio a minha doente disse-me ‘’ A Ana não vou esquecer, a Ana vai ficar no coração…’’, demasiado reconfortante, senti mais do que nunca que tinha escolhido a profissão certa que não podia ser outra. Sabem aquele dever de sensação cumprida? Sim foi isso mesmo que senti… Já me chamaram anjo, já me deram a mão em jeito de gratidão e até me ofereceram dinheiro que de modo algum pude aceitar. Como é bom levar um doente á porta e desejar-lhe as melhoras, dizeres-lhes bom dia com um sorriso, são pequenas coisas, gestos que para muitos são tão supérfluos que fazem com que tudo valha a pena. Um sorriso não dói, não custa nada e faz tão bem a quem o recebe. A força das pessoas, a capacidade de reagirem e resistirem a todos os tratamentos a todos os problemas é impressionante.
Era uma manhã de chuva, na passagem de turno avisaram que uma senhora estava por horas. O monitor cardíaco ás 9 da manhã indicava frequência cardíaca de 49, estava a partir… Partiu cercas das 12:45 da tarde, comigo, sim comigo… fui eu que vi o monitor a zeros e alertei a Enfermeira, quando chegamos ao quarto ainda respirava. Pedi para ficar, fiquei e vi aquela senhora dar o ultimo suspiro. Partiu em paz, tenho a certeza disso. A enfermeira perguntou-me se a queria ajudar a fazer a múmia, respondi que sim. Aprendi mais uma vez o respeito pela pessoa, pelo corpo. Era um corpo morto mas independentemente disso foi tratado com todo o profissionalismo e cuidado como tratei tantos outros. O corpo gelou. As unhas eram da cor da pele. O saco fechou e olhei pela janela, parecia que o mundo corria devagar… ao longe os carros na estrada iam devagar, em marcha lenta tal como aquele anjo que partiu para junto de muitos outros.
Não é fácil lidar com tudo isto, são muitas emoções, muitos sentimentos. Aprendemos a camuflar estes sentimentos numa certa frieza, mas somos pessoas como as outras. Custa-me ver pessoas com patologias em que o fim está anunciado, outras que sofrem menos porque nem sabem o que tem, enfim não é fácil mas como eu digo muitas vezes, se fosse fácil não tinha a mínima piada.
Vou sair daquele serviço com saudades mas com a sensação de dever cumprido e com a certeza que quero voltar. Porque aquele serviço, aquela equipa, os meus doentes são parte da minha história.
É o inicio do resto da minha vida, e que bom que é!
20/10/2010
É claro que nem tudo é um mar de rosas, também á cansaço, tristeza, stress, ansiedade mas basta um sorriso dos meus doentes que tudo melhora. Três dias depois de iniciar o estágio a minha doente disse-me ‘’ A Ana não vou esquecer, a Ana vai ficar no coração…’’, demasiado reconfortante, senti mais do que nunca que tinha escolhido a profissão certa que não podia ser outra. Sabem aquele dever de sensação cumprida? Sim foi isso mesmo que senti… Já me chamaram anjo, já me deram a mão em jeito de gratidão e até me ofereceram dinheiro que de modo algum pude aceitar. Como é bom levar um doente á porta e desejar-lhe as melhoras, dizeres-lhes bom dia com um sorriso, são pequenas coisas, gestos que para muitos são tão supérfluos que fazem com que tudo valha a pena. Um sorriso não dói, não custa nada e faz tão bem a quem o recebe. A força das pessoas, a capacidade de reagirem e resistirem a todos os tratamentos a todos os problemas é impressionante.
Era uma manhã de chuva, na passagem de turno avisaram que uma senhora estava por horas. O monitor cardíaco ás 9 da manhã indicava frequência cardíaca de 49, estava a partir… Partiu cercas das 12:45 da tarde, comigo, sim comigo… fui eu que vi o monitor a zeros e alertei a Enfermeira, quando chegamos ao quarto ainda respirava. Pedi para ficar, fiquei e vi aquela senhora dar o ultimo suspiro. Partiu em paz, tenho a certeza disso. A enfermeira perguntou-me se a queria ajudar a fazer a múmia, respondi que sim. Aprendi mais uma vez o respeito pela pessoa, pelo corpo. Era um corpo morto mas independentemente disso foi tratado com todo o profissionalismo e cuidado como tratei tantos outros. O corpo gelou. As unhas eram da cor da pele. O saco fechou e olhei pela janela, parecia que o mundo corria devagar… ao longe os carros na estrada iam devagar, em marcha lenta tal como aquele anjo que partiu para junto de muitos outros.
Não é fácil lidar com tudo isto, são muitas emoções, muitos sentimentos. Aprendemos a camuflar estes sentimentos numa certa frieza, mas somos pessoas como as outras. Custa-me ver pessoas com patologias em que o fim está anunciado, outras que sofrem menos porque nem sabem o que tem, enfim não é fácil mas como eu digo muitas vezes, se fosse fácil não tinha a mínima piada.
Vou sair daquele serviço com saudades mas com a sensação de dever cumprido e com a certeza que quero voltar. Porque aquele serviço, aquela equipa, os meus doentes são parte da minha história.
É o inicio do resto da minha vida, e que bom que é!
20/10/2010
